Com o Ibovespa voltando a subir e ultrapassando os 135 mil pontos recentemente, diversas ações passaram a registrar máximas históricas. Segundo um levantamento conduzido por Einar Rivero da consultoria Elos Ayta, catorze das 87 ações do índice estabeleceram novos topos em abril. Os segmentos de energia elétrica e seguros destacaram-se, cada um com três representantes nesse grupo. Entre as empresas elétricas, Equatorial (EQTL3), Copel (CPLE6) e Taesa (TAEE11) estão entre as mais valorizadas, resultado da procura por ativos com receitas mais estáveis por parte dos investidores.
Este comportamento ocorre diante da expectativa de reduções nas taxas de juros no Brasil e em outros mercados. A análise do Bradesco BBI coloca o custo de capital próprio (COE, na sigla em inglês) como fator predominante para as ações brasileiras neste ano, com a previsão de início do ciclo de flexibilização monetária no último trimestre. Esta perspectiva foi reforçada pelos participantes do Fórum de Investimentos 2025, promovido pelo banco em São Paulo.
Em comunicado ao mercado, o BBI destacou que o setor de utilities se mantém atrativo tanto para estratégias de preservação quanto para aproveitamento da queda da taxa básica. Ainda que tradicionalmente associado a uma abordagem conservadora, o setor oferece oportunidades para se beneficiar da redução nas taxas de juros, especialmente em empresas mais alavancadas ou com fluxos de caixa altamente sensíveis às mudanças na curva de juros.
Nas semanas recentes, o desempenho das ações do setor elétrico tem superado o índice geral da Bolsa. Durante março e abril, os papéis incluídos na cesta cíclica de utilities do Bradesco BBI — que inclui Auren (AURE3), Neoenergia (NEOE3), Energisa (ENGI11) e Equatorial — cresceram cerca de 500 pontos-base acima do Ibovespa. Segundo o banco, essa valorização não se deve significativamente à compressão da curva de juros reais (com recuo das NTN-Bs de 10 anos em apenas 10 pontos-base), mas sim a uma redução das tensões comerciais internacionais.
O BBI utiliza três critérios para avaliar a sensibilidade das ações do setor às variações de juros: o efeito previsto de uma alteração de 100 pontos-base nos lucros, a variação histórica entre preço sobre valor patrimonial (P/VPA) e a taxa real de 10 anos, e a duration modificada dos fluxos de caixa, método adaptado do mercado de renda fixa para verificar a sensibilidade dos fluxos de caixa futuros a alterações de taxas de juros.
Com base nesses critérios, as ações são organizadas em quartis. A cesta mais exposta à queda de juros é composta pelas empresas mencionadas, todas situadas no primeiro quartil em pelo menos dois dos critérios citados. A estratégia sugerida pelo banco apoia-se no modelo conhecido como barbell, que equilibra posições mais ofensivas — como ações de utilities com maior duration — e ativos considerados defensivos, como títulos de renda fixa ou investimentos internacionais.
Esta abordagem, conforme observa o BBI, reflete a postura atual dos investidores, que se mantêm cautelosos na alocação de risco. Mesmo gestores com maior propensão ao risco ainda não se mostram inclinados a expandir consideravelmente sua exposição ao Brasil. Neste contexto, utilities surgem como uma alternativa intermediária, oferecendo estabilidade de receitas e geração de caixa, além de uma liquidez compatível com grandes alocações institucionais, sendo atualmente o quarto maior setor do Ibovespa.
Paralelamente, o cenário internacional segue impactado por disputas comerciais e a possível recessão nos Estados Unidos — com probabilidade superior a 50% segundo analistas do Bradesco. Espera-se que o Federal Reserve realize entre quatro e cinco cortes de juros até o final do ano. Mudanças na política monetária em economias centrais geralmente abrem espaço para ajustes semelhantes em mercados emergentes. No Brasil, mesmo com taxas de juros ainda elevadas, há margem para revisões nas projeções à medida que a inflação se estabiliza e os fluxos financeiros se adequam.
A valorização de empresas como a Equatorial, que alcançou novo recorde em abril, exemplifica como investidores estão reavaliando o papel dos serviços públicos em seus portfólios. Tradicionalmente considerados conservadores, esses ativos se tornam oportunidades para captar ganhos potenciais com a mudança na política monetária. A cesta cíclica do BBI, por exemplo, acumula um crescimento de 9% no ano, superando o índice geral.
O setor elétrico brasileiro, segundo o banco, possui características tanto operacionais quanto financeiras que o tornam adequado para compor estratégias diversificadas e sofisticadas, com potencial de ganho mesmo em um cenário de queda de juros e alta volatilidade global. A movimentação atual das ações sugere que parte do mercado já está se antecipando a essa tendência.




