Após a extinção dos dinossauros em decorrência da colisão de um asteroide há 66 milhões de anos, os mamíferos passaram a dominar os habitats terrestres na Terra. Contudo, sua supremacia não permaneceu incontrastável. Na América do Sul, por exemplo, os ancestrais crocodilianos conhecidos como sebecídeos emergiram como predadores preeminentes, desafiando o domínio mamífero.
Essa destacada linhagem de crocodilos terrestres, os sebecídeos, perdurou por mais tempo do que se acreditava previamente, conforme revelado por recentes descobertas fósseis na República Dominicana. Tais achados indicam que as ilhas caribenhas serviram como um último refúgio inesperado para esses formidáveis predadores.
Até o momento, os registros fósseis mais recentes de sebecídeos haviam sido desenterrados na Colômbia, datando de cerca de 10,5 a 12,5 milhões de anos atrás. No entanto, os fósseis originários da República Dominicana têm datação aproximada de 5 a 7 milhões de anos. O maior exemplar de sebecídeo chegava a 6 metros de comprimento, enquanto os fragmentos dominicanos sugerem um tamanho em torno de 2 metros.
“Esses predadores apresentam uma morfologia reminiscentes da era dos dinossauros”, comentou Lazaro Viñola Lopez, estudante de pós-graduação em paleontologia da Universidade da Flórida e principal autor da pesquisa publicada na revista Proceedings of the Royal Society B. Conforme Viñola Lopez, os sebecídeos dominaram o topo da pirâmide alimentar na América do Sul durante a era dos mamíferos, juntamente com aves do terror — aves gigantes não voadoras de até 3 metros de altura — e marsupiais com dentição de sabre, análogos aos felinos de dentes de sabre do norte da América.
Os crocodilos têm habitado o planeta desde o Período Triássico, há mais de 200 milhões de anos. Embora a maioria tenha um estilo de vida semi-aquático, alguns, como os sebecídeos, se adaptaram a ambientes exclusivamente terrestres.
Os sebecídeos possuíam uma construção corporal diferenciada dos crocodilos comumente conhecidos. Com membros longos e postura ereta, eram capazes de rápidas investidas. Sua estrutura craniana estreita e profunda, similar à de alguns dinossauros carnívoros, contrastava com os crânios mais largos dos crocodilos modernos. Seus dentes, altos e afilados com serrilhas finas, eram especializados para esquartejamento, lembrando também os dinossauros predatórios.
Os fósseis descobertos em 2023 na República Dominicana incluem um dente e duas vértebras que permitiram aos paleontólogos identificarem, com certeza, sua filiação à linhagem sebecídea.
“É fascinante imaginar que esses crocodilos terrestres velozes, possuidores de dentição serrilhada, subsistiram no Caribe se alimentando de preguiças, roedores e outras presas ao redor até milhões de anos recentes”, afirmou Jonathan Bloch, coautor do estudo e curador no Museu de História Natural da Flórida.
As evidências também apontam para a presença de sebecídeos em outras ilhas do Caribe, corroboradas por fósseis antigos descobertos em Cuba e Porto Rico. Acredita-se que um possível caminho constituído por pontes terrestres temporárias ou cadeias de ilhas tenha permitido a dispersão desses crocodilos da América do Sul para o Caribe, entre 32 a 35 milhões de anos atrás.
“A separação entre as ilhas e o norte da América do Sul era substancialmente menor que a atual, o que possibilitou a dispersão dos sebecídeos”, explicou Viñola Lopez. “Este cenário ilustra a importância das ilhas como museus da biodiversidade, preservando os remanescentes de algumas linhagens extintas em outros locais.”




